A Covid-19 fez interromper um projeto voluntário de atendimento de saúde à população carcerária. Mas os integrantes da Missão Amor Que Cura encontraram uma saída para levar atendimento básico de saúde a unidades prisionais do Estado do Rio durante a pandemia: a telemedicina. Depois de uma paralisação de 3 meses, as consultas voltaram a serem realizadas de forma remota. “Só na primeira semana realizamos 110 atendimentos”, conta Frei Paulo Batista, coordenador da Missão. Ele atribui esse sucesso à plataforma online.

“A Conexa Saúde nos ofereceu de forma gratuita o meio para conectar nossos médicos voluntários aos presidiários. Com isso demos continuidade ao projeto que desenvolvemos há mais de 3 anos junto à Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (SEAP), que viabiliza a realização dos atendimentos remotos dentro das unidades carcerárias. É a Superintendência de Saúde do órgão que nos indica onde acontecerão os atendimentos e faz a triagem dos pacientes para as teleconsultas”, conta o Frei Paulo. Ele explica que cabe à Missão buscar médicos voluntários para os atendimentos e fornecer os medicamentos prescritos aos doentes.

A ideia dos teleatendimentos surgiu em abril, durante uma reunião de médicos com o coordenador da Missão. “Não sabíamos como levar computadores para dentro dos presídios, com toda a questão relativa à segurança. Mas dias depois o Frei Paulo tinha conseguido não só a doação dos notebooks que seriam levados aos presídios, como também a plataforma para os atendimentos e todo o suporte da superintendência de gestão em saúde da SEAP”, conta a infectologista Marisa Santos, que participa das Missões há mais de um ano e é a responsável pela elaboração da escala dos atendimentos remotos. A médica ressalta que os pacientes mais graves serão encaminhados para uma consulta presencial em uma unidade de pronto atendimento.
Ela adianta que os atendimentos serão realizados três vezes por semana, por oito médicos voluntários: “Temos um grupo de pessoas empenhadas em ajudar os outros e que conseguiram se organizar para doar parte do seu tempo, apesar desse momento tão difícil. Estamos muito animados”.

Integrante do projeto desde o início, a hematologista Marilza Campos de Magalhães também está empolgada com o retorno dos atendimentos, mesmo que à distância. “A telemedicina surgiu como uma oportunidade para darmos continuidade ao nosso trabalho. Não é o ideal, mas é o que podemos fazer agora. Quando tivemos que interromper os atendimentos, ficamos muito preocupados com a situação dos presos. Ao longo de quase três anos de atuação, visitamos praticamente todos os presídios do estado e desenvolvemos, paralelamente aos atendimentos, um importante trabalho de conscientização sobre a importância da higiene”, afirma. Ela destaca que entre os problemas de saúde mais recorrentes entre os presidiários estão infecções de pele, alergias respiratórias e tuberculose, além de doenças crônicas como hipertensão e diabetes.

A plataforma

Para realizar os atendimentos a distância, os médicos voluntários da Missão Amor que Cura no Cárcere passaram por treinamentos. “Vencemos vários desafios importantes para colocar o projeto em funcionamento. Foi um esforço conjunto, envolvendo o time da Conexa Saúde e todos os profissionais engajados no projeto. Doamos nossa solução de telemedicina e treinamos médicos e enfermeiros para usar a ferramenta”, diz Guilherme Weigert, CEO da Conexa Saúde. Ele lembra que foi preciso superar obstáculos como garantir infraestrutura para permitir a comunicação, desde internet a computadores com qualidade para a realização das teleconsultas. “Além disso, foi preciso encontrar uma forma de atender pessoas com perfil completamente diferente do cliente tradicional de telemedicina que é alguém autônomo, com celular próprio, e-mail, senhas de acesso. O detento, ao contrário, está sob custódia do Estado e não tem esses recursos”, pontua Weigert.

A primeira Missão Amor que Cura no Cárcere foi realizada no Instituto Penal Cândido Mendes, na Ilha Grande, que é voltado para detentos com idade superior a 60 anos.

 

Sobre a Missão

A Missão Amor que Cura no Cárcere é realizada desde julho de 2017 e só interrompeu os atendimentos mensais devido à impossibilidade de realizar visitas presenciais nos presídios por conta da Covid-19. Um grupo formado por médicos, enfermeiros e outros profissionais de saúde voluntários realizavam, a cada edição, uma média de mil atendimentos médicos em diferentes unidades prisionais do Estado do Rio.

A Missão no Cárcere é um dos desdobramentos da Missão Amor que Cura que foi criada por Frei Paulo Batista, diretor geral do Hospital São Francisco na Providência de Deus, em 2015 para levar atendimento médico e doações de alimentos e roupas para a população que vivia na região do extinto lixão de Gramacho. Dois anos depois, surgiram as Missões nas Ruas, para a distribuição de refeições a pessoas em situação de rua nas regiões do Centro e de Bangu e a Missão no Cárcere, para o atendimento de presidiários. Esse trabalho é realizado por voluntários e é mantido por doações à conta da Associação Lar São Francisco de Assis na Providência de Deus (Banco do Brasil: Ag. 1916-X, C/c 5675-8 – CNPJ: 53.221.255/0049-95). Os interessados também podem contribuir adquirindo a camiseta “Amor que Cura” por R$ 30.
A Missão Amor que Cura está baseada no Hospital São Francisco na Providência de Deus, que fica à rua Conde de Bonfim 1033, na Tijuca – Rio de Janeiro. Para saber mais sobre o projeto ou se engajar na Missão, acesse o site amorquecura.org.